Certamente em algum momento do seu trabalho e/ou pesquisa você deve ter se deparado com a necessidade de executar uma rotina gigantesca de procedimentos usando seus dados geográficos, e deve ter se perguntado: “Isso não acaba mais?”. Porém, pior que executar tais rotinas é, na maioria das vezes, perder muito tempo esperando um processo terminar para começar o próximo. A menos que você não se importe com seu tempo, isso não será problema.
Após essa breve contextualização, mostrarei neste artigo, de forma sucinta, como automatizar uma rotina de procedimentos usando o Modelador de Processamento do QGIS.
O exemplo que darei diz respeito ao geoprocesso União (union), no qual faço a integração de três parâmetros: Unidades de Conservação, Vegetação e Focos de Queimadas a fim de obter o registro da ocorrência de queimadas em vegetação nativa dentro de unidades de conservação.
É um processo simples e muito rápido, no qual serve apenas para ilustrar o artigo.
Outros parâmetros podem perfeitamente ser acrescentados e ficam a critério do usuário. Neste exemplo que será mostrado, poderiam ser adicionados temas como as propriedades rurais, o uso da terra, a declividade, enfim, o limite é a necessidade e, como estamos tratando de Brasil, a disponibilidade de dados.
Saliento ainda que, praticamente qualquer rotina pode ser automatizada. Mas para isso, planeje com antecedência quais dados deverão ser usados, nome e localização dos arquivos, e, principalmente, qual o objetivo final do seu processamento.
Coloque no papel o passo-a-passo em detalhes da sua rotina para não se esquecer de nada e assim, comprometer o resultado.
Vamos lá, então!
PASSO 1: Conhecendo o ambiente de modelagem
O modelador é apresentado em uma janela dividida, onde o painel da esquerda [A] ficam os parâmetros de entrada [1] e os algoritmos [2] e, a área de trabalho [B] é o local onde o modelo e seu respectivo fluxo será estruturado.


PASSO 2: Criando o modelo
Para a criação de um modelo, é preciso definir:
a) Os dados de entrada:
Eles deverão ser adicionados na janela de parâmetros, a fim de que o usuário possa configurar os seus valores quando executa o modelo. O modelo por si é um algoritmo, portanto, os parâmetros da janela é gerado automaticamente como acontece em todos os algoritmos disponíveis na infraestrutura de processamento.
b) O fluxo de trabalho:
A partir dos dados de entrada do modelo, o fluxo de trabalho é definido automaticamente, adicionando algoritmos e selecionando como vão usar esses arquivos de entrada ou de saída gerados por outros algoritmos que já existem no modelo.
A fim de começar a criação do modelo, deve-se abrir a janela do modelador. Para isso, digite o atalho Ctrl+Alt+M ou clique no menu Processar > Gráfico Modelos…
Como este procedimento utiliza apenas dados vetoriais (Shapefiles), basta dar um duplo clique no parâmetro Vector Layer para abrir uma janela de diálogo onde você poderá começar a configurar seus dados de entrada.
Quando a janela abrir, preencha os campos de acordo com os dados que pretende trabalhar, clicando em OK para finalizar. Repita o procedimento quantas vezes forem necessárias, de acordo com a quantidade dos seus dados.
Neste caso, criei três entradas pertinentes aos dados que disponho:
FocosQueimadas
UnidadesConservacao
VegetacaoNativa
Perceba que, a medida em que vão sendo criadas as entradas elas vão sendo organizadas automaticamente na área de trabalho do modelador. Caso haja algum erro na entrada, é possível editá-la clicando no lápis presente nela.
Em seguida, na guia Algoritmos selecione qual, dos que estão disponíveis, pretende adotar para a automatização do seu processo.
Neste caso, utilizei o algoritmo de União nativo do QGIS. Perceba que é possível usar outros da biblioteca GDAL, do GRASS e do SAGA GIS. Caso tenha instalado outras extensões como TauDEM ou Orpheu Toolbox, também se consegue utilizá-las nas modelagens.
Então, escolhido o algoritmo,clique duas vezes sobre ele para configurar a sua rotina de execução.
Ao abrir a janela do algoritmo, preencha os campos:
Descrição: com o nome do procedimento.
Camada de Entrada: Indique o nome da primeira camada que pretende unir à segunda.
Camada de Entrada 2: Digite o nome da segunda camada que petende unir à primeira.
União<OutputVector>: Indique o nome do resultado de saída do processo de união.
Algoritmo pai: Deixe em branco.
Depois Clique em OK para finalizar esse primeiro processo.
Configure o segundo processo, e assim sucessivamente, até esgotarem os passos necessários à rotina.
Neste caso, necessitou-se apenas repetir mesmo procedimento anterior.
Note que, a camada de entrada corresponde à resultante do procedimento anterior. No seu caso, isso ficará a seu critério, dependendo da sua rotina.
Após concluir a construção da rotina, o fluxo de trabalho (workflow) será mostrado graficamente de modo automático. Se tudo estiver devidamente configurado, parabéns para você.

PASSO 3: Salvar o modelo
Para salvar o modelo, é necessário, primeiramente, dar nome a ele [1] e a qual grupo [2] pertence.
Assim, sugiro que o nome do modelo seja o mesmo da rotina. Neste caso, usei Monitoramento Queimadas.
Já para o nome do grupo, caso a rotina seja parte de uma outra superior, sugiro usar o nome desta. Neste caso, nomeei como Monitoriamento Territorial.
De acordo com a documentação do QGIS, “os modelos são salvos com a extensão .model. Caso o modelo tenha sido previamente salvo da janela do modelador, não lhe irá ser solicitado por um nome de arquivo, uma vez que já existe um arquivo associado ao modelo, e este será usado […]
Todavia, os modelos salvos na pasta modelos (a pasta padrão quando é pedido o nome do arquivo para salvar o modelo) irá aparecer na caixa de ferramentas na ligação correspondente. Quando a caixa de ferramentas é chamada, ele procura na pasta modelos por arquivos com a extensão .model e carrega os modelos salvos. Uma vez que o modelo é um próprio algoritmo, este pode ser adicionado na caixa de ferramentas como qualquer outro algoritmo.
A pasta de modelos pode ser configurada a partir do diálogo de configuração do processamento, no grupo Modelador
Os modelos carregados a partir da pasta modelos aparecem na caixa de ferramentas, mas também na árvore de algoritmos do separador Algoritmos da janela do modelador. Isto significa que pode incorporar o modelo como parte de um modelo maior, tal como adiciona qualquer outro algoritmo.
Em alguns casos, um modelo pode não ser carregado porque nem todos os algoritmos incluídos estão disponíveis. Se tiver usado um dado algoritmo como parte do seu modelo, este deverá estar disponível (isto é, deverá aparecer na caixa de ferramentas) de forma a carregar o modelo. Desativando um fornecedor de algoritmos nas configurações do da janela do processamento poderá desativar o modelador, o que pode trazer problemas quando carrega os modelos. Tenha isso em atenção quando tiver problemas a carregar ou a executar modelos”.
OBSERVAÇÃO:
Recomendo guardar uma cópia do modelo recém-salvo em uma pasta segura pois, caso haja algum tipo de problema no seu computador ou no próprio QGIS, sua rotina também ficará a salvo.
PASSO 4: Testando o modelo
Para rodar o modelo, testando sua rotina, importe os arquivos necessários no QGIS.
Em seguida, digite o atalho Ctrl+Alt+T ou clique no menu Processar > Caixa de ferramentas.
No canto esquerdo da sua tela, será mostrada a janela da caixa de ferramentas do QGIS.
Agora, perceba que o modelo foi importado automaticamente e, para executar, basta clicar no algoritmo correspondente. Será aberta uma janela de diálogo.
Ao abrir a janela, indique as camadas (layers) que deverão ser associadas aos campos correspondentes.
Caso deseje salvar os arquivos resultantes, proceda naturalmente como de praxe. Caso contrário, os resultados serão carregados na memória do computado, cabendo a você salvá-los manualmente. Para este caso, deixei por padrão, para salvar em um arquivo temporário. Depois, clique em Run para rodar o modelo.
Espere o processo acabar e confira o resultado.

No fim, após o processamento, acessei a tabela de atributos e salvei somente aqueles pontos (vermelhos) onde houve queimadas na vegetação dentro das unidades de conservação da natureza.

CONCLUSÃO
O modelador de processos do QGIS é uma ferramenta muito últil, principalmente no que diz respeito à desburocratização dos procedimentos existentes nos ambientes GIS, assim como no ganho de tempo e produtividade, simplificando o cotidiano de quem repete as mesmas rotinas com muita frequência.
Convém lembrar que quase tudo é passível de ser automatizado usando as dicas aqui apresentadas. Vai depender apenas da sua necessidade.
Para mais informações, recomendo a leitura da documentação do QGIS pertinente a este tema, clicando neste link.
Espero que você tenha gostado do artigo e que o mesmo lhe seja útil.
Até a próxima.
Muito boa a dica. Procurei por muito tempo entender como fazer isso mas nunca encontrava em português. Parabéns e obrigado.
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muito bom, vai me ajudar muito
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